30 de mar. de 2009

I-13

Eu vi Juliana sentada à mesa, quieta. Parecia angustiada. Ela mordia o lábio inferior de forma delicada, mas chacoalhava os cubos de gelo do seu copo com veemência. De cinco em cinco segundos, olhava para o relógio, dourado - talvez para combinar com a cor dos cabelos, que usava no punho esquerdo. Sentei-me atrás dela, em um lugar estratégico, de onde poderia ver sua imagem refletida em dois espelhos paralelos, sem que ela me notasse. Foram quinze ou vinte minutos de observação total, com um intervalo de trinta ou quarenta segundos para buscar meu pedido numa dessas lojas de "fast-food". Logo percebi que ela estava esperando alguém. Volta e meia seus olhos o buscavam, sem sucesso, no espaço vazio que só um shopping carioca à duas horas da tarde de um sábado de sol poderia oferecer. Levantei-me, dirigi-me até o guichê e comprei meu bilhete para a sessão das 14:20 do premiadíssimo "Slumdog Millionaire". Apanhei minha pipoca amiga e caminhei até a sala de exibição número 6, onde acomodei-me na poltrona I-13 - sim, a poltrona central! Eu era o cara mais privilegiado daquela sessão. E assim que as luzes foram apagadas e o primeiro "trailler" passou a ser exibido, Juliana subiu as escadarias da sala e, sob à luz da grande tela mágica, caminhou em minha direção. Custei a acreditar, mas ela estava sozinha. A sala estava praticamente vazia. Ela curvou-se ao meu lado e perguntou:
- I-13?
- Sim. Por quê?
- É o melhor lugar.
Disse enquanto acomodava-se na poltrona I-14.
- É, eu sei.
- Eu sempre pego o 14.
- Por quê?
- O 13 dá azar.
Passamos a tarde toda discutindo o quão maravilhoso era o filme e o quanto a superstição dela, aliada à minha falta de, havia colaborado para a transformação do 13 em meu número da sorte.

Um comentário:

Café Marques disse...

As melhores conversas são aqueles que começam por acaso, despretensiosas, que se tornam constantes, absolutamente legais.