Nariz Vermelho

- "Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar". Quem é esse tal de mesmo? Por que porra eu devo verificar se ele encontra-se parado nessa porra? Porra, eu quero que o mesmo vá pra porra! Pra porra da puta que o pariu nessa porra!

Abri a porta de casa cuidadosamente. Se ela estivesse acordada, ia dar...

- Que merda! Onde você estava?
- Parei pra comer um negócio com a galera do trabalho.
- Comer um negócio?
- É.
- E que porra de negócio é esse que deixa seu nariz vermelho desse jeito?
- Tá vendo, Daniella? Você não confia em mim!
- Não confio? Você cheirou essa porra de novo.
- Vai se fuder!
- Vai se fuder você, seu filho da puta. Você não tem onde cair morto.
- Isso. Joga na minha cara.
- Jogo! Jogo, sim. Eu abri a merda da porta da minha casa pra você, porque você prometeu parar com essa palhaçada.
- Eu não cheirei.
- Mentiroso! Filho da puta!
- Foi só um tiro!
- Viciado!
- Cala essa boca antes que eu te meta a mão na cara...
- Bate! Bate viciado filho duma puta!

Silêncio.

- Que merda! Some daqui, Pê.
- Porra. Some daqui é o caralho, eu não tenho pra onde ir.
- Foda-se, eu avisei. Se cheirasse essa merda de novo...
- Caralho, que merda! Você não entende.
- Não entendo o quê?
- Eu preciso.
- Precisa do quê? Fala.
- Para.
- Fala: Eu sou um merda de um viciado. Eu preciso cheirar essa bosta.
- Cala a boca!
- Fala, caralho. Fala, seu filho da puta.
- Porra! Vai tomar no cú, você nem tenta entender o meu lado.
- Não tento mesmo, porque eu te amo, Pedro. Quando é que você vai entender que essa merda vai acabar com o nosso namoro?
- Não sei, porra.
- Pê, acorda. Acorda, Pedro! Para com essa brincadeira idiota. Pedro, acorda! Caralho!

Eu acordei, ainda sob o efeito dos remédios, dentro de um quarto grande, branco, bonito. Não sabia onde estava, até que ela entrou por aquela porta, descabelada, com a roupa amassada e os olhos inchados como dois hematomas.

- Tá vendo? Até essa merda de hospital eu tenho que pagar pra você. Vai se fuder, porra, eu não aguento mais.

E saiu, deixando o cartão de uma clínica de recuperação sobre a mesa - ao lado da foto que tiramos em NY.

- Que merda de vida é essa que eu estou levando? Alguém sabe me dizer?