24 de fev. de 2010

Maldito futuro do pretérito

A poesia que eu te dei
poderia ser prosa,
os riscos de um desenho,
as pétalas de uma rosa.
a água de um velho engenho.

Poderia ser uma janela acesa,
um corredor de palmeiras,
um insenso queimando sobre a mesa,
lágrimas que escorreriam sorrateiras - a felicidade.

A poesia que eu te dei
poderia ser canto,
as asas da borboleta,
o alívio que abraça o pranto,
o chumbo da escopeta.

Poderia ser uma criança correndo
atrás de uma bola colorida.
E poderia até deixar de ser texto
e passar a ser vida - história vivida - a nossa cidade.

Poderia ser beijo na boca,
tapa na cara,
a pilha de louças,
uma doença rara.

Poderia ser flor,
cama de pedra,
desenho sem cor,
discurso de Fedra.

Poderia ser mel,
uma poça de sangue,
o amassar do papel,
a lama do mangue.

Poderia ser verde
e queimar na varanda,
a sola do pé
que vai atrás da banda.

Poderia ser tudo
ou até não ser nada.
O berro do mudo
na beira da estrada.

Poderia ser nada
ou até ser tudo,
o gozo da vida
no peito desnudo.

Um comentário:

Café Marques disse...

Cara, há tempos que eu não escrevia um verso sequer. E essa poesia me inspirou pra escrever....

Como te sentes sendo fonte de inspiração?