6 de set. de 2008

O discurso rimado do ladrão

Desculpa, senhora.
Acho que me confundi,
bati à porta errada.
Esperava encontrar
uma senhorita sentada,
mas avisto daqui
uma cama de casal.

Desculpa, senhora.
Acho que me perdi,
virei a esquina errada.
Vejo que és
mulher compromissada.
As flores que eu carrego,
à outra entrego, não faz mal.

Desculpa, senhora.
Mas não posso mesmo entrar.
Queira teus olhos
dos meus afastar.
Vou-me embora.

Desculpa, senhora.
Pelos versos declamados,
pelos dias de céu nublado
em que o teu corpo acetinado
foi gramado do meu quintal.

Desculpa, senhora.
Por esse pobre pé-rapado,
nestas terras recém-chegado,
meter-se entre o recém-casado -
mas tão frio - jovem casal.

Desculpa, senhora.
Mas não posso aceitar.
Queira tuas mãos
das minhas soltar.
Vou-me embora.

Desculpa, senhora.
Mas agi por impulso,
segui o curso do rio
do meu coração.

Desculpa, senhora.
Queria abraçá-la,
não magoá-la.
Juro que não.

Desculpa, senhora.
Por não tomar-te em meus braços,
por não levar-te deste lugar.

Desculpa, senhora.
Se penso, mas não o faço.
é por muito nisso pensar.

Desculpa, senhora.
O senhor há de nos perdoar.
A ocasião faz o ladrão.
Por amor, roubo.
Por amor, hei de pagar.

Nenhum comentário: