A Revista O Globo, que chegou às bancas no domingo, seis de abril, trouxe uma entrevista reveladora com o ator e autor Pedro Cardoso – o Agostinho da Grande Família. Entrevista essa que eu, na particularidade das minhas opiniões, achei merecedora de um texto como esse.
O ator, nacionalmente conhecido por seu papel cômico na TV, revela suas visões incomuns da cena teatral e conta como mergulhou na dualidade do ser humano em seus textos; sempre transitáveis entre a alegria e a tristeza, o cômico e o dramático.
Pedro Cardoso iniciou sua carreira trabalhando como operador de luz no espetáculo “Cabaré Valentin”, de Gilda Guilhon e, ao ser perguntado sobre como imaginava o seu futuro, Pedro diz que “ia ser um ator de teatro e que seria uma pessoa pobre”.
Após essa viagem pelo mundo técnico do espetáculo, Pedro subiu ao palco e depois de uma das apresentações, foi chamado pelo grupo Manhas e Manias para integrar o espetáculo “Brincando com fogo”, dirigido por Zé Lavigne e que tinha no elenco amigos como Chico Diaz, Débora Bloch, Andréa Beltrão e Cláudio Baltar.
Um desentendimento, por conta de um atraso, fez com que Pedro se auto-expulsasse do grupo e fosse trabalhar com Felipe Pinheiro. Pedro Cardoso tinha então encontrado o seu grande parceiro. Felipe o apresentou a Amir Haddad e foi com Amir que Pedro finalmente conheceu a literatura e a teoria teatral. Amir foi seu grande mestre, mas não seu diretor. Pedro não se julga dirigível. Para ele, o teatro é o lugar do ator e do autor. “Isso pra mim é uma relação essencial. Não sei bem para que serve um diretor”.
E é o Pedro, autor, quem revela seus métodos e manias de passar pro papel o que ele gostaria de dizer no palco, da forma como ele gostaria. Diz ainda que “a grande contribuição do Felipe foi essa: ele colocou em cena tudo que as pessoas falavam nos ensaios, mas não tinham coragem de mostrar. Ele percebeu que aquilo era bom teatro.”
Suas peças levam três, quatro, até cinco anos para serem escritas, mas geralmente são jogadas no palco antes de serem terminadas. Essa relação entre o autor e o público é responsável pela finalização do texto.
Formado pelas gerações da MPB que o precederam, Pedro aponta como referências para o seu trabalho Chico Buarque, Tom Jobim e Cartola e o ponto alto – e triste – da entrevista vem quando a entrevistadora pergunta o porquê de trabalhar sempre sozinho no teatro. “A principal razão é que o Felipe morreu. Eu fiquei muito desamparado com a morte dele”.
Como o palhaço que perde o parceiro, Pedro perdeu seu maior colaborador e amigo. Talvez esteja nesse fato a explicação para a dualidade de Pedro. “Meu irmão Carlos disse que sou um autor triste e um ator cômico”
A entrevista segue, Pedro fala de seus projetos, de sua aversão a “indústria que vende a vida íntima das pessoas” e diz que acha a psicologia cômica: “os motivos pelos quais as pessoas fazem as coisas.”
A entrevista é consistente e bem direcionada. Mas de todas as sensações que ela pare, a mais bela não pode ser escrita. A foto de Pedro e Felipe sorrindo, explica o tom triste da conversa. “Dentro de um momento triste há, no mínimo, a esperança de que aquela tristeza vá embora. Nada é absoluto.”
Despeço-me desse pedaço de papel com a certeza de que mais do que grandes autores, grandes atores e grandes diretores, o bom teatro é feito por grandes amigos, presentes ou não.
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